quarta-feira, 4 de maio de 2011

Crônica: ''Fiquei Lost em Lost''

CRÔNICA: FIQUE LOST EM LOST

Fala sério! Mas, você entendeu o seriado “Lost”? Entendeu do início ao fim à ponto de explicá-lo com detalhes em uma rodada de amigos? Você foi fiel aos sobreviventes do vôo desabado naquela ilha para lá de Trash ou acabou se cansando e deixou de lado os coitados a “ver navios”?
Particularmente, eu não acompanhei como deveria e por isso não o entendi, mas não morro de inveja daqueles que torciam para Jack e companheiros encontrassem o caminho, o portal, a passagem, a macumba que fosse para voltar para a casa. Comparo Lost à Caverna do Dragão da década de 80, na luta incansável de Hank, Presto, Eric, Diana, Sheila e Bobby para retornar ao mundo real. Coitados! Até cogitaram algo na net sobre o possível “final” do desenho quando os jovens retornavam ao parque, mas eram só especulações...
Com tudo, por várias vezes “perdido” em Lost, sobressaio algo válido aos meus olhos de Professor de Letras quando me fixei aos inúmeros Arquétipos explorados no seriado. Se você não sabe o que é um, digo sobre um modelo rígido e eterno de impulsos ou comportamentos humanos, instintivos, que se formaram na origem dos tempos e permanecem latentes no espírito humano. À exemplo, uma Rosa vermelha é um arquétipos de Paixão, bem como um cavalo robusto representa a virilidade do macho, entre outros...
Lost não se perdeu em arquétipos, mas pecou na linha seqüencial das temporadas: O cenário era fabuloso: uma ilha “deserta” ora civilizada pelos “outros” ora medieval por estranhos moradores ora nem mesmo o autor sabia explicar...
Ilha é um arquétipo espiritual de imortalidade compreendida assim, em várias culturas. Os celtas, à exemplo, sempre representaram o “Além-Mar” sobre o prisma de uma Ilha onde viviam os Deuses Irlandeses que recebiam os navegantes. Todavia, chegar desabando em um paraíso perdido como no caso de Lost, significa que houve a fixação no chão à imortalidade dos passageiros ao Bel-Prazer no mais completo local de paz e silêncio longe do mundo profano. É para complementar, não podemos esquecer que toda Ilha é cercada por um Mar e ele é outro arquétipo representando a “Dinâmica da vida” e com o balançar das ondas que os personagens reviam seus passados e descobriam que todos já se conheciam antes da peça pregado pelo universo.
Os personagens em Lost além de se preocuparem com a própria sobrevivência e a privação da liberdade, corriam e morriam de medo de um “Bicho-Papão” em forma de “Fumaça Negra” com grito de monstro de filme barato que, pegava alguns personagens e arrastava-os para não sei bem onde... No penúltimo capítulo, foi explicado que a Ilha tinha uma gruma – “Treva” – iluminada e de lá, saia a maldita da fumacinha que arrepiava com a galera. Fumaça tem relação Céu e Terra na fumaça purificadora e no seriado, ela capturava os sobreviventes até a gruta ao sofrimento e daí a ascensão plena.
Outra observação é sobre Clair. A loirinha teve um filho na ilha e o moleque trouxe consigo a representação da Evolução psicológica, o retorno às origens  pueris, a regressão... A imagem do bebê de Clair no colo e aos cuidados por vários personagens representou esse retorno, à ponto de entender que todos – inconscientemente – já se conheciam.
Jack era Médico e era o personagem central em Lost. Tudo se voltava a ele, tudo tinha um link ou um retrocesso ao cara. Por quê? Jack era o SAMUR de todos os personagens. Por vários capítulos, era aparecia exercendo a Medicina até “morrer” sozinho (na Ilha) ao lado de um cão-labrador. Medicina é um arquétipo de sabedoria do corpo e da alma! No caso dos coitados da Ilha acredito que ele era o “CARA” que curava O SOFRIMENTO DE TODOS. Uma espécie de Deus.
Já que citei personagens, não posso deixar de confirmar as multi-nações entre eles. Americanos, Coreanos, Indianos... estavam no vôo e foram forçados a se comunicar vivendo em sociedade na Ilha. Neste feito, comparo a bíblica “Torre de Babel”, onde todos trabalhavam juntos e se comunicando em várias línguas. Língua é dominação e da forma como é proferida constrói ou destrói nações. Em Lost, ela era uma antítese entre vida versus morte, pois para alguns personagens ela era motivo de sobrevivência.
Com tudo, o seriado se apresentava por um fluxo de memória gritante! Lembrei de dois filmes que abusavam disso: Efeito Borboleta... e Os 12 Macacos com o Brad Pitt, onde as películas usavam o “rir e vir” de memórias que dava até náuseas!
E para fim, vi Lost por uma linha interpretativa embasada no kardecismo de Alan Kardec. Para mim, todos eram espíritos vagantes presos em um umbral. Os espíritos não tinham evoluídos porque estavam presos à matéria e por uma dívida terrena entre eles. Então nesta ora que se entende que os personagens já se conheciam e que por predestinação precisavam sofrer na tragédia para que eles (re)aprendessem as carmas astrais entre si. Então, a única fuga desse umbral seria as lembranças algo incontível ao homem.
O final de Lost, aos meus olhos, foi assim: “... as almas se encontraram em uma igreja e o pai de Jack abre as portas e uma luz amarela adentra o recinto. Todos se abraçam calorosamente e vão ao encontro da luz para o descanso eterno ou supostamente, voltar para casa”. Uma música emocionante envolve a cena e Lost se finaliza deixando-me uma abissal pergunta na cabeça: Do que se tratam o seriado?

Marcos Luis S. de Amorim

2 comentários:

  1. Espero que todos gostem dessa versão de Lost!

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  2. A teoria de que seria uma espécie de umbral é bem válida!! Pensando agora, até que parecia mesmo. rsrs

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